CEDAE teria lançado metal pesado na água que abastece o Rio de Janeiro

Água da CEDAE é Tóxica?

A Notícia escolhida foi: “Ação da CEDAE para eliminar efeitos da geosmina acabou lançando metal pesado na água.”, veiculada no site Diário do Rio.

Recentemente, muito tem se tem falado sobre a questão da água no Rio de Janeiro. Moradores da Cidade tem relatado, com frequência, gosto ruim e um forte odor na água fornecida pela CEDAE (Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro). Em alguns lugares, há relato de que até a mesmo a coloração está alterada.

Essa é uma situação que vem se repetindo na Cidade, já que, no início de 2020 já houve outra crise no abastecimento, por conta da presença de uma substância chamada geosmina, presente na água, que não seria prejudicial à saúde, segundo a CEDAE. Mas esta substância, que é produzida por algas, não deveria estar presente na água que chega até as casas e estabelecimentos, pois, com a sua presença, a água não seria realmente potável.

Com a nova crise, no início deste mês (Abril de 2021), a CEDAE anunciou medidas que seriam tomadas para conter os efeitos da geosmina. A Estação de Tratamento de Água do Guandú ficaria fechada por um dia, para escoamento da água em direção à Lagoa Grande. A manobra de renovação da água seria tomada para amenizar a situação, até que outra ação, prevista para 1º de junho, fosse tomada pela empresa, em definitivo, para eliminar a geosmina (a instalação de nova bomba com filro). A manobra de abertura do Guandu seria, então, realizada no dia 06/04.

No dia 07/04, então, começou a ser disseminada a notícia de que a ação da CEDAE teria piorado a situação da água na cidade, já que a empresa teria acabado por lançar metais pesados na água, que seriam tóxicos e prejudiciais à saúde da população. A notícia se espalhou rapidamente nos grupos de Whatsapp e, junto com ela, era encaminhado um arquivo de áudio, que teria sido gravado pela esposa de um funcionário da FioCruz, informando que a água estava contaminada e dando dicas para a população tratar a água em casa, antes de usar.

Para fazer a checagem desta informação, conforme as metodologias de Fact-Checking, primeiramente, algumas observações foram feitas na própria reportagem. O subtítulo da reportagem diz: “Além de não resolver o problema, a Estação de Tratamento do Guandu está mais uma vez parada, e a água agora está poluída com o metal pesado LANTÂNIO, que causa males ao fígado e outros órgãos.”. Essa é uma acusação muito grave e perigosa. No decorrer da reportagem, o site faz outras afirmações quanto à toxicidade do componente, relacionando a conclusão a “especialistas, cientistas e estudos internacionais”, no entanto não informa o nome de nenhum desses profissionais e não disponibiliza links ou detalhes sobre os estudos mencionados.

 “O lantânio, segundo especialistas consultados pela reportagem, é um metal extremamente tóxico e altamente poluente. Estudos internacionais relacionam este produto a graves alterações no fígado, malformações congênitas nos lábios e no palato e até mesmo danos à fertilidade e ao sistema reprodutor.”.

A falta de embasamento me levou a desconfiar do conteúdo, que não passou confiabilidade. Buscando a informação verdadeira na internet, foi possível encontrar uma Nota Oficial, da própria CEDAE, publicada em 07 de abril, esclarecendo a situação e informando que a notícia era falsa e que o metal lançado na água, o Phoslock, não é um metal pesado e não torna a água prejudicial à saúde. Além disso, eles esclarecem que obtiveram autorizações dos órgãos competentes, além de outros esclarecimentos.

Apesar de ter encontrado a mesma notícia, referente à possível toxicidade da água em sites que possuem certo nível de confiabilidade para a sociedade (o Jornal O Globo Online veiculou uma matéria também acusando a CEDAE), foi possível encontrar outras matérias, além da Nota Oficial da CEDAE, esclarecendo a situação.

O Site Brasil de Fato lançou, em 11 de abril, uma matéria consultando especialistas da UFRRJ , da SINTSAMA-RJ e da EPSJV/Fiocruz, que esclarecem o equívoco sobre o Phoslock. No site da Agencia Brasil, também há uma matéria esclarecedora, publicada em 12 de abril, tranquilizando a população.

Portanto, ficou caracterizado que a matéria em análise, publicada pelo Diário do Rio, apesar de conter informação verdadeira (o lançamento da substância para conter a geosmina realmente ocorreu), é um conteúdo EXAGERADO e DISTORCIDO.

Já no áudio enviado recorrentemente junto com o link da notícia, existem indícios de fraude. Além do fato de uma mensagem de áudio poder ser gravada por qualquer pessoa, a mulher fala de situações que parecem já ter acontecido no passado. Este conteúdo já foi esclarecido pelo site Boatos.org, em 2020 e retornou agora, em 2021, com a nova crise no abastecimento na água. O mesmo site voltou a desmentir o áudio e o classificou, novamente, como FALSO.

Sendo assim, concluímos que há, de fato, uma grande preocupação com a qualidade da água que está sendo distribuída no Rio de Janeiro e há muitos pesquisadores, especialistas, jornalistas e cientistas dedicados a analisar os fatos e pressionar a CEDAE e o Governo do Estado para que a situação se resolva. Porém, a matéria em questão foi veiculada de maneira irresponsável e sem embasamento, podendo até mesmo fazer parte de uma manobra política, para impulsionar a privatização da estatal, que já vem em pauta há algum tempo.

Segue abaixo as fontes utilizadas para esta pesquisa: