É Fake, ozonioterapia não mata o coronavírus
Curas milagrosas não existem, diz o Conselho Regional de Medicina de SP. Anúncio de que aplicação de ozônio é eficaz contra o novo vírus foi proibido pela Justiça. Sociedade Brasileira de Infectologia faz alerta e diz que ‘não há qualquer evidência científica’ nisso.
Por Roberta Pennafort, CBN
Um anúncio publicado nas redes sociais diz que a ozonioterapia é “uma arma poderosa para combater o surto de coronavírus”. Segundo a publicação, a aplicação do ozônio “mata qualquer tipo de bactéria, fungo ou vírus”. É #FAKE.
A ozonioterapia é uma técnica antiga, porém, ainda considerada experimental pelo Conselho Federal de Medicina. Ela consiste no uso de uma mistura de ozônio e oxigênio para aumentar o fluxo sanguíneo. Não há evidências científicas que permitam seu uso médico no Brasil, de acordo com o conselho.Visite os nossos parceiros, líderes em calçado de moda!
“Com essa pandemia, começam a aparecer essas ‘curas milagrosas’. Só que isso não existe”, afirma o cirurgião Angelo Vattimo, diretor-secretário do Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp). “Acredito que a gente vá chegar a alguma medicação que melhore ou reverta a sintomatologia da Covid 19 ou a uma vacina. Mas não é para agora.”
Ao tomar conhecimento da divulgação feita por uma fisioterapeuta no Instagram, na qual ela diz que “o ozônio é tudo o que precisamos para o momento que estamos vivendo”, o Cremesp decidiu entrar na Justiça para proibi-la de continuar com o anúncio, considerado charlatanismo pela instituição.
A 22ª Vara Cível Federal de São Paulo concedeu liminar favorável ao Cremesp, considerando que “a divulgação pela ré de qualquer método de tratamento não reconhecido cientificamente para o vírus em questão, em especial a ozonioterapia, se mostra um ato irresponsável, uma vez que, em razão da ausência de qualquer comprovação cientifica da efetividade do tratamento até o presente momento, pode prejudicar inúmeras pessoas que atualmente se encontram em uma situação de vulnerabilidade e fragilidade diante da pandemia”.
A Sociedade Brasileira de Infectologia diz ter recebido vários questionamentos sobre a eficácia da prevenção da infecção pelo novo coronavírus por meio da ozonioterapia. “Não há qualquer evidência científica que a ozonioterapia proteja contra a Covid-19”, afirma a entidade.
O infectologista Leonardo Weissmann, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia, reforça tal alerta. Ele diz que não existem evidências de que a ozonioterapia seja eficaz “contra absolutamente nada, o que inclui o novo coronavírus”. “É bastante grave este tipo de divulgação, porque muita gente está em pânico. Aproveitadores se valem da fragilidade da população.”
O Cremesp vê outro perigo na propagação dessas informações falsas. “Essas ‘fake news’ podem fazer com que as pessoas relaxem nas medidas de isolamento e de higiene, pensando que estão imunizadas”, afirma Vattimo.
Os casos investigados de promessas envolvendo ‘curas milagrosas’ incluem médicos. “Estamos agindo de forma rigorosa contra atitudes oportunistas. É um período seríssimo. Nunca enfrentamos nada parecido e não vamos ser omissos. A sociedade está apavorada, e com razão. Não é uma brincadeira.”
O superintendente jurídico do Cremesp, Carlos Magno Michaelis Júnior, diz que no momento há outras duas ações em curso relacionadas ao uso de técnicas sem eficácia comprovada cientificamente para casos de coronavírus.
No domingo (22), o Fantástico mostrou alguns desses casos pelo país. A equipe do Fato ou Fake chegou a checar um deles, o da médica dizendo que a soroterapia combate o coronavírus, o que não é verdade.
A fisioterapeuta Poliane Cardoso, responsável pela postagem da ozonioterapia, fez uma nova publicação em seu Instagram negando que tenha anunciado a técnica como forma de curar casos de Covid-19. Ela diz que pode ter sido “interpretada equivocadamente”.
Poliane alega ter divulgado apenas os benefícios que a terapia gera para aumentar a imunidade dos pacientes, e afirma que se ampara na portaria 702 de 2018 do Ministério da Saúde para o uso da ozonioterapia como “prática complementar” (caso também da aromaterapia, bioenergética, entre outras práticas previstas na portaria).
O Ministério da Saúde reforça que, até o momento, “não há nenhum medicamento, substância, vitamina, alimento específico ou vacina que possa prevenir a infecção pelo coronavírus (Covid-19)”.