A China quer os mares. Todos eles.

Eu encontrei um texto que foi postado na noite de 5 de agosto de 2020 no site https://brasilsemmedo.com/a-china-quer-os-mares-todos-eles/ e que foi compartilhado no Facebook por uma amiga minha. O referido texto traz no título a notícia de que a China quer todos os mares e no subtítulo traz o seguinte: “Por todo o planeta, navios chineses são sinônimo de pesca predatória e violação de acordos internacionais. E o objetivo final desses piratas é conquistar o mundo”. E no corpo do texto diz que a marinha do Equador, no final do mês de julho, entrou em alerta diante da aproximação de uma frota de mais de 260 pesqueiros chineses próximo à Galápagos, que é um dos locais com maior biodiversidade do mundo. Achei a notícia duvidosa porque depois do Coronavírus a China se tornou vilã em muitas postagens, grande parte delas falsas. E também pelo teor de “ameaça comunista” que o texto carrega, reproduzindo a possível fala do atual presidente da República Popular da China, Xi Jinping, que eu não encontrei em nenhum veículo de comunicação confiável, na qual ele supostamente dizia que os mares seriam parte crucial no oferecimento da China de uma solução chinesa para a humanidade de instituições sociais melhores. Cheira a “teoria da conspiração”. Busquei nos sites R7 (https://noticias.r7.com/internacional/equador-em-alerta-por-presenca-de-navios-chineses-em-galapagos-28072020) e G1 (https://g1.globo.com/mundo/noticia/2020/08/06/china-proibe-seus-pesqueiros-de-se-aproximarem-das-ilhas-galapagos.ghtml) e constatei que a noticia sobre os 260 navios pesqueiros é parcialmente verdadeira. Sim, o Equador, segundo o site R7, em matéria publicada em 28 de julho, identificou 260 260 embarcações pesqueiras próximas a Galápagos e a marinha desse país entrou em estado de alerta, no entanto, o site informa que a maioria dessas embarcações eram chinesas, e não todas elas como a notícia veiculada dias depois pelo site Brasil sem Medo afirma. E aqui cabe a pergunta: Falta de pesquisa séria por parte do site ou má fé? No site G1, em notícia publicada na manhã do dia 6 de agosto, ou seja, horas depois da publicação da notícia do site Brasil sem Medo, há a informação de que no final de julho, em virtude dos 260 navios pesqueiros próximos a Galápagos, o Equador expressou seu mal estar a Pequim, solicitando o afastamento dos navios do arquipélago, e o governo chinês proibiu seus navios pesqueiros de se aproximarem de Galápagos. O site Brasil sem Medo poderia, após essa tomada de posição chinesa, editar sua notícia colocando essa informação, mas não o fez, e também não cita em momento algum que os 260 navios pesqueiros estavam em águas internacionais, embora se encontrassem próximos ao santuário marinho. E em relação à afirmação do site Brasil sem Medo de que os navios chineses são sinônimo de pesca predatória e violação de acordos internacionais por todo o mundo, busquei nos sites da ONU e do Greenpeace e nada encontrei que confirmasse essa afirmação. Encontrei apenas uma reportagem no site da Época (https://epoca.globo.com/mundo/como-navios-invisiveis-chineses-matam-pescadores-em-barcos-fantasma-no-mar-do-japao-24544794) que aborda como a pesca industrial promovida pela China mata pescadores em “bascos fantasmas” no mar do Japão que, após investigação, concluiu que:“  a China está enviando uma frota previamente invisível de barcos industriais para pescar ilegalmente em território da Coreia do Norte, deslocando violentamente barcos norte-coreanos menores e encabeçando um declínio de mais de 70% da população outrora abundante de lulas”. Diante de tudo isso, concluo que as embarcações existem e a preocupação com Galápagos por parte do governo do Equador também, mas que não há, em minhas pesquisas, indícios de veracidade na acusação, por parte do site Brasil sem Medo, de que a China viole acordos sobre a pesca no mundo inteiro e muito menos de que queira aplicar a chamada “solução chinesa” no mundo inteiro.