Marielle Franco, sua morte e as fake news

A intensa comoção causada pela execução da vereadora do Psol-RJ, Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Gomes, no dia 14 de Março de 2018, gerou, além de manifestações e homenagens emocionadas, uma onda de acusações e notícias falsas, as chamadas fake news, sobre a trajetória política e pessoal de Marielle. Circularam na época, pelo Whatsapp e pelas redes sociais, sem nenhum tipo de comprovação, boatos que iam desde a sua conexão com o crime organizado até o uso de drogas.

Entre os que compartilharam fake news sobre a vereadora, estão até mesmo figuras públicas. Em sua conta no Twitter, o ex-deputado Alberto Fraga (DEM-DF), na época um dos líderes da chamada bancada da bala, escreveu que Marielle era “ex-esposa do Marcinho VP”, traficante que comandava o tráfico na zona sul do Rio, “usuária de maconha” e “defensora de facção rival e eleita pelo Comando Vermelho”. O parlamentar disse ao Congresso em Foco que fez a postagem após ler “várias publicações”, já identificadas como falsas. Após a repercussão negativa, a postagem foi apagada.

Na tentativa de conter a circulação de notícias falsas, o departamento jurídico do Psol e familiares de Marielle Franco se mobilizaram em uma força-tarefa para identificar e denunciar as pessoas que utilizaram as redes sociais para difamar a vereadora. As denúncias que configurassem atentado à honra e à dignidade deveriam ser encaminhadas para a Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática. Também foi criada uma página (www.mariellefranco.com.br/averdade) onde, até hoje, são enumeradas cinco notícias falsas contra a vereadora que têm circulado pela internet.

Os boatos contra Marielle, desmentidos pelo site são:

“Marielle era ex-mulher do traficante Marcinho VP”: MENTIRA

A vereadora Marielle Franco nunca foi casada ou teve qualquer tipo de relacionamento com os traficantes identificados como Marcinho VP, seja Márcio dos Santos Nepomuceno, traficante do Complexo do Alemão preso desde 1997, ou Márcio Amaro de Oliveira, criminoso do Morro Santa Marta morto em 2003.

“Marielle foi eleita pelo Comando Vermelho”: MENTIRA

A então vereadora nunca fez parte de qualquer facção criminosa. Eleita para seu primeiro mandato em 2016, com 46,5 mil votos, Marielle obteve a maior parte dos seus votos da Zona Norte do Rio de Janeiro, cerca de 47% do total; seguidos pela Zona Sul (34% dos votos), reduto tradicionalmente de classe média; Zona Oeste (18%) e Centro (1%). Na região do Bonsucesso, que abarca os eleitores do Complexo da Maré, – onde a vereadora nasceu e foi criada – ela recebeu apenas 7% dos seus votos. As informações são Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-RJ).

“Marielle era usuária de maconha”: MENTIRA

Marielle tinha entre suas bandeiras a luta por uma nova política de drogas, defendendo que a guerra ao tráfico se tornou, ao longo de décadas, uma fonte de violência, desigualdade e corrupção. Ainda assim, ela não era usuária de maconha ou de qualquer outro tipo de droga.

“Marielle engravidou aos 16 anos”: MENTIRA

Assassinada aos 38 anos, Marielle deixou uma filha de 19 anos, Luyara Santos. A gestação, portanto, ocorreu entre os 18 e 19 anos de idade, e não aos 16.

“Marielle defendia bandidos”: MENTIRA

A então vereadora do Psol questionava ações truculentas conduzidas pela Polícia Militar do Rio de Janeiro. “O 41º BPM está aterrorizando e violentando moradores de Acari. Nessa semana dois jovens foram mortos e jogados no valão”, denunciou ela em uma de suas últimas postagens nas redes sociais. Ela, no entanto, nunca defendeu qualquer ato criminoso. Chegou a auxiliar, inclusive, familiares de policiais assassinados na época em que foi assessora da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, de acordo com relatos de parentes das vítimas.

“Lutamos para que nenhum assaltante ou infrator seja torturado, amarrado à postes e executado. Defender isso é defender a garantia da nossa Constituição”, diz a página em defesa de Marielle. “Não é ‘defender bandido’, é defender que a lei seja cumprida. Justiça é diferente de vingança”, completa o texto.

Fonte: www.institutomariellefranco.org