Após a situação mais crítica da pandemia do novo coronavírus, o Brasil e o mundo viram crescer a disseminação de notícias falsas acerca de algo que há muito tempo já deveria ter sido sedimentado na mente de todos: a necessidade inquestionável de vacinar-se. Fato é que, a partir da explosão de casos positivos de covid-19 e da classificação desta doença como uma pandemia, de amplitude global, sendo esta uma doença viral, iniciaram-se as pesquisas e os debates acerca de uma vacina na tentativa de frear o avanço deste patógeno. A partir disso, portanto, um tema que há muito tempo já percorria a mente e os discursos de uma minoria passa a tomar proporções nunca antes imaginadas, sobretudo em um país que sempre foi referência mundial no que se refere à cobertura vacinal e no combate a inúmeras doenças a partir da imunização.
Não é a primeira vez que a ciência avança de forma avassaladora na busca por um imunizante para interromper o avanço de uma determinada doença, porém é uma das primeiras vezes em que se viu um massacre tão intenso às bases do pensamento científico e dos protocolos para a liberação de uma vacina comprovadamente eficaz contra um determinado antígeno. É, pois, curioso, já que ao invés de se celebrar o processo relativamente rápido pelo qual se deu o desenvolvimento desse imunizante, que, em tese, poria fim a um difícil contexto de isolamento social, mortes e uma economia em colapso, passou-se a, na verdade, a questionar os seus protocolos, sua eficácia e a preterir a vacina em razão de fármacos sem nenhuma base científica que os comprovasse ou recomendasse seu uso.
Assim sendo, não se pode negar que há um contexto histórico e ideológico que por anos já habitava no íntimo de uma pequena parcela da população que apenas esperava que fossem respaldados por uma figura de autoridade e por uma grande visibilidade promovida pela mídia. Fato é que uma pandemia nas proporções da covid-19 foi o palco perfeito para que ideais anti-vacinas fossem expelidos para fora de suas bolhas e infiltrassem os campos políticos, sociais e até mesmo acadêmicos na tentativa de propagar informações tendenciosas, imprecisas e até mesmo inverídicas sobre algo que há muito se esperava que já estivesse socialmente incorporado como DNA de uma sociedade que almeja pelo avanço da ciência e que enxerga nela os benefícios para ampliar a sua qualidade de vida e para tecer respostas aos que sofrem ou sofreram por determinadas doenças ao longo dos séculos.
Uma notícia como a evidenciada anteriormente não só revela exatamente isso acima descrito, mas também mostra como há um profundo debate ideológico percorrendo os mais diversos eixos temáticos que compõem a sociedade moderna. A notícia questiona a eficácia das vacinas, mas também extrapola para temas como a economia capitalista, ao citar o monopólio das indústrias farmacêuticas, e às questões de gênero, que desestabilizam setores ultra-conservadores espalhados pelo mundo inteiro. Nesse viés, qualquer sujeito minimamente ciente das bases da produção de fake news já teria notado como a notícia recorre e apela para o sensacionalismo ao buscar temas que rotineiramente fazem parte dos debates sociais e que incitam o discurso de ódio entre os cidadãos simplesmente para respaldar um determinado ponto de vista ampliando as suas bases em busca de apoiadores.
Apenas este fator citado acima já serviria como uma importante base para classificar a notícia como falsa. No entanto, já que se trata de uma informação que conversa e bate de frente com a estrutura do pensamento científico, há, por excelência, a necessidade de recorrer a outras fontes de produção de ciência que sejam confiáveis. Neste sentido, buscar por periódicos publicados em revistas científicas renomadas se faz essencial para falsear estas informações ou, quem sabe, até mesmo comprová-las, pois é isto que a metodologia científica almeja. Mas, pensando no público leigo, pode haver o direcionamento para sites de universidades e centros de pesquisa conhecidos pelos cidadãos, como o Instituto Butantan ou a Fundação Oswaldo Cruz.
Estas seriam as orientações mais precisas para que o cidadão que deseja informar-se acerca dos mais variados temas que permeiam a sociedade comprove notícias duvidosas. Isso se faz essencial, sobretudo no momento em que se deixam fake news como estas, que colocam em xeque princípios básicos de saúde pública e comprometem a vida de milhares de pessoas, fazerem eco na tentativa de tornarem-se fontes de ganho financeiro ou simplesmente por defenderem bases ideológicas que não convergem para o ideal de sociedade que deve-se almejar.
Fonte: https://www.pucrs.br/blog/por-que-e-importante-se-vacinar/