Vacinação causa transtorno do espectro autista

Em 1998, Andrew Jeremy Wakefield – ex-pesquisador e ex-cirurgião – publicou um artigo na revista The Lancet intitulado “MMR vaccination and autism”. A ideia principal de sua tese era que a vacina tríplice viral causava transtorno do espectro autista (TEA) nas crianças que a tomavam. Devido a essa publicação, o autor teve sua licença médica cassada sob a acusação de evidências fraudulentas.

Segundo cartilha elaborada pelo Ministério da Saúde, a vacina contra sarampo, rubéola e caxumba – chamada de tríplice viral – é uma combinação de vírus atenuados que, injetada via subcutânea no músculo deltoide, confere ao indivíduo, proteção contra as doenças mencionadas1.

O sarampo é uma infecção viral que possui como sintomas: tosse, coriza, olhos inflamados, dor de garganta, febre, irritação na pele e manchas vermelhas. Suas principais complicações comprovadas pelo Ministério de Saúde são: pneumonia, infecções de ouvido, encefalite aguda, parto prematuro e morte2.

A rubéola se trata de uma infecção viral que possui como sintomas: febre, dor de cabeça, inchaço dos nódulos linfáticos, irritação na pele e manchas vermelhas. As principais complicações segundo o Ministério da Saúde são referentes a gestantes, podendo causar aborto, morte do feto e malformações congênitas no feto (como surdez, malformações cardíacas e lesões oculares)3.

Por fim, a caxumba é uma infecção viral que atinge as glândulas salivares. As pessoas infectadas por essa doença podem ser assintomáticas ou apresentar glândulas salivares inchadas e doloridas, febre, dor de cabeça, fadiga e perda de apetite. As principais complicações segundo o Ministério da Saúde envolvem inflamação nos testículos, mastite, perda neurosensorial da audição, encefalite, pancreatite e aborto em caso de gestante no primeiro trimestre de gravidez4.

Após analisar sobre o que se trata a vacina tríplice viral e quais doenças ela fornece proteção, assim como seus sintomas e as possíveis complicações para quem é infectado por essas doenças, será discutido o que é o transtorno do espectro autista (TEA).

O TEA é uma desordem do desenvolvimento neurológico e se caracteriza pela deficiência de dois domínios principais: comunicação e interação social; e padrões excessivamente repetitivos de comportamento, com interesses restritos5.

A primeira identificação de um funcionamento anormal cerebral de crianças com TEA foi constatada em 2000, pela médica pesquisadora Monica Zilbovicius, por meio da medicação de fluxo sanguíneo cerebral de crianças diagnosticadas com TEA e crianças não diagnosticadas. Tal pesquisa foi publicada no American Journal of Psychiatry, e os resultados indicam que crianças com TEA possuem atividade reduzida no córtex do sulco temporal direito. Inicialmente, acreditava-se que essa parte do lobo era responsável unicamente pela percepção dos sons, mas a questão é ela também está envolvida na decodificação de informações relevantes para as interações sociais; os sons ouvidos passam por um processo de interpretação e de associação, sem essa correspondência, o indivíduo apresenta dificuldade em interpretar tons de voz, gestos, expressões faciais etc. Na Revista Pesquisa da FAPESP, “acredita-se que o autismo tenha origem genética importante e que a manifestação do problema dependa predominantemente da constituição genética do indivíduo”. Assim, “é consenso que a formação inadequada das redes neuronais ligadas à percepção e ao processamento das informações sociais – o chamado cérebro social – se deve a defeitos nos genes”6.

A refutação final da teoria se deu em março de 2019, com a pesquisa publicada no Annals of Internal Medicine, cujos pesquisadores analisaram mais de 600 mil crianças nascidas entre 1999 e 2010, acompanhando-as até o seu primeiro ano de vida, para avaliar se a vacina aumentava o risco de desenvolver o transtorno7. De todas, pouco mais de 6 mil foram diagnosticadas com TEA, mas não houve qualquer comprovação científica que corroborasse aumento de incidência por aplicação da vacina8.

Referências:

  1. Cartilha do Ministério da Saúde. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cart_vac.pdf.
  2. Sarampo: sintomas, prevenção, causas, complicações e tratamento. Disponível em: http://bvs.saude.gov.br/ultimas-noticias/3025-sarampo-sintomas-prevencao-causas-complicacoes-e-tratamento.
  3. Rubéola: quais os sintomas, como é transmitida e como prevenir. Disponível em: http://saude.gov.br/saude-de-a-z/rubeola.
  4. Caxumba: o que é, causas, sintomas, tratamento, diagnóstico e prevenção. Disponível em: https://saude.gov.br/saude-de-a-z/caxumba.
  5. Transtorno do Espectro Autista (TEA). Disponível em: https://drauziovarella.uol.com.br/doencas-e-sintomas/transtorno-do-espectro-autista-tea/.
  6. O cérebro no autismo. Disponível em: https://revistapesquisa.fapesp.br/o-c%C3%A9rebro-no-autismo/.
  7. Vacinas não causam autismo: o mais amplo estudo do tema sai na Dinamarca. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2019/03/05/ciencia/1551783023_370147.html#:~:text=A%20tese%20fundamentada%20de%20que,v%C3%ADnculo%20hipot%C3%A9tico%20entre%20a%20vacina.
  8. Measles, Mumps, Rubella Vacination and Autism. Annals of Internal Medicine. Disponível em: https://www.acpjournals.org/doi/10.7326/M18-2101.