A notícia de que o termômetro infravermelho, utilizado com frequência para aferir a temperatura de pessoas em locais públicos durante a pandemia do novo coronavírus, poderia causar danos cerebrais por queimar os neurônios foi difundida com frequência em todos os cantos do mundo. A Agência Lupa, referência nacional no que tange à checagem de notícia, adota três critérios de relevância: afirmações feitas por personalidades de destaque nacional, assuntos de interesse público (que afetem o maior número de pessoas possível) e/ou que tenham ganhado destaque na imprensa ou na internet recentemente, sendo esses dois últimos casos os que se enquadram na notícia citada anteriormente. O grande objetivo é verificar o grau de veracidade de frases que contenham dados históricos, estatísticos, comparações e informações relativas à legalidade ou constitucionalidade de um fato. A partir de maio de 2018, a Lupa ampliou seu trabalho para o campo do debunking – verificação de conteúdo publicado por fontes não oficiais. A decisão foi tomada a partir da adesão da empresa ao projeto de verificação de notícias (Third Party Fact-checking Project) do Facebook.
Uma vez decidida a frase/conteúdo que será checado, o repórter da Lupa faz um levantamento de “tudo” que já foi publicado sobre o assunto. Consulta jornais, revistas e sites. Depois, se debruça sobre bases de dados oficiais e inicia o processo de garimpo de informações públicas. Na ausência delas ou diante da necessidade de saber mais sobre o assunto a ser checado, o repórter da Lupa recorre às Leis de Acesso à Informação (LAI) e/ou às assessorias de imprensa. Ainda pode ir a campo, levando consigo os meios tecnológicos que julgar necessários para a apuração: equipamento fotográfico, de áudio ou de vídeo. Para concluir seu trabalho, o repórter pode recorrer à análise de especialistas para contextualizar o assunto e evitar erros de interpretação de dados. Com tudo isso em mãos, solicita posição oficial daquele que foi checado, dando-lhe tempo e ampla oportunidade para se explicar. No caso do debunking, como se desconhece o autor da informação, esse passo é omitido. Ao cumprir as etapas de sua metodologia, a Lupa se certifica de que entrega a seus leitores um texto objetivo, repleto de links que o ajudarão a reconstruir o caminho percorrido pelo checador e a entender suas conclusões.
Ao verificar a notícia sobre os malefícios do termômetro infravermelho e fazer o levantamento de outras notícias sobre o assunto, podemos identificar que não há dados oficiais sobre o tema. A seguir, após a grande repercussão, recorreram-se aos especialistas para que estes pudessem falar com propriedade sobre a informação. E a conclusão foi que estávamos diante de uma notícia falsa, as já populares fake news. O que já é lamentável se agrava ainda mais, dadas as circunstâncias adversas as quais estamos expostos, jamais vividas há, pelo menos, três gerações.
Fontes de Informação:
https://lasillavacia.com/detector-no-los-termometros-no-contacto-no-danan-las-neuronas-77322 – uma das primeiras fontes a propagar a notícia
https://piaui.folha.uol.com.br/lupa/2015/10/15/como-fazemos-nossas-checagens/ – atualizado em Janeiro de 2020.