Lascou-se! Com essa expressão inicia-se o título de uma matéria do site Terra Brasil Notícias, referindo-se à situação da jogadora de vôlei de praia Carol Solberg, que gritou “Fora, Bolsonaro!” durante uma entrevista ao vivo na SporTV. O conteúdo, publicado em 23 de setembro de 2020, direciona que a declaração de Solberg a fez perder patrocínio da empresa BetMotion. Por se tratar de uma notícia que repercute positivamente entre os apoiadores do governo federal, cabe uma análise apurada para averiguar se este é um caso de fake news em favorecimento à legitimação da ideologia de direita.
O apelo emocional trazido pelo verbo no início do título já sinaliza a necessidade de cuidado com o conteúdo da notícia. A fonte citada na matéria (site Presidente Bolsonaro) reforça a possibilidade de a mensagem estar focada em atender certo viés ideológico em detrimento da divulgação de fatos verídicos. Tal contexto exige a pesquisa a respeito do que a BetMotion tem a dizer sobre a situação. Logo no dia 23, a empresa emitiu um comunicado declarando que a jogadora não recebia patrocínio desde 2019, como demonstrado pelo site de fact-checking piaui.uol.folha.org. Portanto, não se trata de um fato decorrente da atitude da atleta durante a entrevista, contrariando o que sugere o Terra Brasil Notícias. Além disso, o próprio site presidentebolsonaro.com publicou uma errata afirmando ter se enganado com boatos de WhatsApp.
A utilização dos verbos “sugerir” e “direcionar” para caracterizar a ação do site Terra Brasil faz todo sentido, uma vez que a matéria não chega a afirmar, de fato, que a perda do patrocínio resultou do “Fora Bolsonaro!”. O próprio título não mente quando diz o que ocorre com a jogadora, pois ela realmente tem uma perda de patrocínio durante a carreira. Além disso, ele indica que tudo o que o texto relata vem de determinado site e dizer que outrem afirmou algo (verídico ou não) não é por si só uma inverdade. Outro ponto importante é a utilização de um alto grau de incerteza, como ocorre no trecho “a situação também pode ter afetado os bolsos da jogadora de vôlei”. Tal trecho demonstra que o autor não está certo de que a fala de Carol ocasionou o suposto corte de verba. Toda essa abordagem possivelmente se trata de uma estratégia para evitar processos judiciais por parte da defesa da atleta nacional.
Mas então, por que se tem a impressão de que a matéria passa a ideia de que Solberg sofre os efeitos de sua fala na SporTV? O fenômeno ocorre devido à maneira como os dados são apresentados. Há todo um trabalho de colocação de frases no momento (in)certo e de omissão de dados como a data da perda do patrocínio. O autor(a) não enfatiza o fato da informação ser apenas a replicação do que outro site publicou, mas sim o conteúdo desta: a perda do patrocínio. Dessa maneira, a notícia poderia ser classificada como uma produção distorcida, um tipo de conteúdo enganoso no qual textos, imagens e áudios trazem informações factualmente corretas, mas aplicadas com o intuito de confundir.
Por fim, é válido lembrar que maneiras mais simples de checagem de fatos podem ser executadas. A consulta aos comentários no inferior da página onde a notícia em questão é exposta já revela depoimentos de internautas acusando o conteúdo de fake news. Outra medida é o acesso a diferentes links tratando do mesmo assunto, mas tal ação exige cautela, uma vez que ainda há mais de um endereço web propagando essa notícia falsa. Apesar das agências de fact-checking realizarem um trabalho maravilhoso, elas não impedem que páginas enganosas continuem em destaque nos resultados de busca.
Fontes de pesquisa:
https://piaui.folha.uol.com.br/lupa/2020/09/24/verificamos-carol-solberg-patrocinio/
https://piaui.folha.uol.com.br/lupa/wp-content/uploads/2020/09/2409-Resposta-Betmotion.png
https://presidentebolsonaro.com/errata-carol-solberg-nao-perdeu-patrocinios/