Circunscrito ao longo do tempo à temática da constatação da presença de notícias falsas na composição e circulação de reportagens jornalísticas na mídia tradicional – jornais impressos, reportagens na TV, rádio – que comprometiam o compromisso do redator para com a veracidade dos fatos difundidos, para que não prevalecesse a mensagem duvidosa, mas, sobretudo, que trouxesse a informação precisa, e retomado pelo cenário informativo perpassado pelas tecnologias digitais em rede, nessa exigente reconfiguração contínua da composição dos fatos porque disseminados nesse caráter dinâmico, principalmente, pelas plataformas digitais, pela internet, nesse resgate descentralizado da informação sob o domínio do jornalismo, pois esta também é (re)construída, cocriada pelas impressões pessoais dos internautas, usuários das redes sociais.
Logo, por essa readaptação dos profissionais checadores dos fatos, das informações, das declarações, dos conteúdos inscritos nessa nova metodologia do fact-checking, desenvolvida sob a influência do uso maciço das tecnologias digitais em rede, que direcionam a quantidade e a velocidade com que as mensagens são propagadas nas mídias e nos veículos digitais de comunicação, que se contextualiza a checagem de fatos como prática jornalística nessa “reinvenção da verdade no jornalismo”, como também a perspectiva da diminuição do número de notícias falsas, de memes pelo grande fluxo de postagens nas redes sociais, que fez suscitar a desconfiança dos usuários e inscrever esse ambiente digital como, essencialmente, de propagação, uma vez que as notícias falsas só circulam dentro da torrente de informações construídas e difundidas nas redes sociais porque os sujeitos, em suas relações sociais, constroem-se pelo contato com as notícias, independente de serem verdadeiras.
Nesse sentido, sintonizado com essa possibilidade da desinformação e alicerçado nessa necessidade de contê-la e combatê-la pela redução da expansão de mentiras e múltiplos exageros nos conteúdos propagados e nas notícias estampadas nas mídias, ressurge a caracterização do fact-checking, a partir de trabalho de checagem realizado, principalmente, sobre as declarações já publicadas, diferentemente do que acontecia nas redações em que o redator checava os dados para poder escrever, criar a história, baseado no “faro jornalístico” e, assim, despontava a notícia original.
Portanto, nessa ambientação de busca pela informação verdadeira, construída pela junção do jornalismo de dados e nas determinações oriundas das checagens destes para a constituição das notícias ou para a intervenção nas já existentes, que se extrai a nova ramificação do jornalismo na era das plataformas digitais, que faz fervilhar as informações, as notícias, as declarações por uma “escala e alcance absolutos” como a notícia que circulava do termômetro infravermelho causar danos ao cérebro ao fazer a medição da temperatura corporal como um dos recursos utilizados no auxílio ao combate do contágio pela Covid-19. Logo, é nessa linha de produção jornalística de desconstrução de mentiras disseminadas pelas redes sociais abertas Facebook e WhatsApp que se concentra o trabalho dos checadores das agências de jornais, em defesa da informação verdadeira no trato de um assunto sério como o enfrentamento da contaminação pelo coronavírus.
REFERÊNCIA
BARBOSA, Mariana. “Guerra de Likes”: precisamos dominar as ferramentas e fazer a verdade viralizar.
SCOFIELD, Gilberto Jr. Desconstruindo as fake-news: O Trabalho das Agências de Fact- Checking.
SIMONETTO, Carlos Renato Coelho; APOLLONI, Rodrigo Wolff. Fake News, Pós-verdade, Fact-checking e Jornalismo de Dados: Um
Pequeno Glossário para o Jornalismo.
Disponível em: <https://g1.globo.com/fato-ou-fake/coronavirus/noticia/2020/06/30/e-fake-que-termometro-digital-infravermelho-cause-cancer-e-cegueira.ghtml >. Acessado em 12 de outubro de 2020.