Governo cancela o pagamento da aposentadoria de idosos que saírem de casa

          Estamos passando por um momento delicado na saúde mundial. O aumento dos números de casos do Covid-19 e sua propagação global, fizeram com que a OMS decretasse situação de pandemia. O termo pandemia não diz respeito ao número de casos especificamente, e sim que uma determinada doença infecciosa atingiu um nível onde um número considerável de pessoas espalhadas pelo mundo a contraíram.

          No entanto, quando falamos sobre a pandemia devemos ter uma cuidado todo especial para não alarmar a população e espalhar o pânico. Há uma grande preocupação com os níveis de disseminação e com a inatividade de certos países. No Brasil, o Ministério da Saúde vem anunciando diferentes medidas para intensificar a vigilância, o diagnóstico e o tratamento do novo coronavírus. O fechamento de escolas, a suspensão de competições esportivas profissionais e outras medidas mais radicais foram adotadas com o objetivo de paralisara a propagação da doença. Apenas serviços considerados essenciais estão funcionando. Além dos diversos pedidos para que a população, em especial os grupos de risco, fiquem em casa.

            Observamos que de um modo geral, muitas pessoas não estão levando a doença a sério. Com isso, vemos os números de óbitos e de casos positivos aumentando consideravelmente. Assim, hoje diversas cidades espalhadas pelo país já proibiram a saída de casa sem o uso de máscaras.

            O sistema público de saúde no nosso país é precário há muitos anos. Faltam leitos, atendimento de qualidade a população mais carente, sem contar na demora nos atendimentos. Com a disseminação no corona vírus no país, observamos que os hospitais estão ainda mais sobrecarregados e até mesmo o sistema funerário vem enfrentando dificuldades.

            Mesmo não sendo o epicentro do novo coronavírus no Brasil, alguns estados do Norte e Nordeste se anteciparam e foram os primeiros a determinar o lockdown, o bloqueio total das atividades, como estratégia de combate ao avanço da pandemia nas regiões.

            Os moradores dessas regiões só podem sair de casa para comprar alimentos, medicamentos e material de limpeza. Todos os acessos à ilha foram fechados, a não ser para pessoal médico, ambulâncias, viaturas policiais e caminhões e ônibus transportando pessoal e material essencial.

            Apenas trabalhadores de serviços essenciais estão autorizados a continuar circulando. Eles terão que portar uma declaração de serviço essencial, emitida pelas empresas. Postos de checagem farão as verificações por amostragem. Quem circular sem autorização será primeiro orientado pela polícia e, se não cumprir as regras, poderá ser levado a uma delegacia.

            Esta semana, o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro recomendou que o governador Wilson Witzel e o prefeito Marcelo Crivella estudem e verifiquem a possibilidade de implementar o bloqueio total na cidade e no estado do Rio de Janeiro, o chamado lockdown, como medida extrema de enfrentamento à pandemia do novo coronavírus.

            A medida é tida como o nível mais alto de segurança sanitária e só pode ser adotada em situação de graves ameaças ao sistema de saúde. A prefeitura do Rio já anunciou esta semana que não há mais leitos disponíveis nos hospitais públicos para atender e internar pacientes da covid-19. Os hospitais de campanha criados para dar suporte aos hospitais públicos ainda não estao funcionamento em sua totalidade.

            No caso de se decretar o estado de lockdown, todas as entradas do perímetro definido para o bloqueio serão controladas por profissionais de segurança e ninguém tem permissão de entrar ou sair. Os objetivos são interromper qualquer atividade por um curto período de tempo, sendo uma medida eficaz para redução da curva de casos e para reorganização do sistema.

            O aumento da propagação vírus, muito se dá por conta da baixa adesão da população ao isolamento social. Os idosos, principal grupo de risco, são os que menos estão respeitando a quarentena, seja por morarem sozinhos, por alegarem não ter alguém para fazer coisas básicas que eles necessitam, ou por simplesmente não quererem ficar em casa. Mediante a isso, uma notícia rapidamente se espalhou pelo WhatsApp, que idosos que não respeitassem a quarentena perderiam a aposentadoria, e seus filhos e netos acima de 18 anos seriam responsabilizados e teriam de pagar multa.

           Apesar da intenção protetiva de filhos e netos, trata-se de uma mensagem falsa. Mesmo assim, muitos idosos receberam a mensagem através de filhos, netos, amigos e realmente acreditaram na notícia.

            Por que a notícia é falsa? Uma rápida pesquisa sobre a Medida Provisória nº 922 já é possível ver que tem algo errado. A primeira coisa que salta aos olhos é a data: a medida foi assinada em 28 de fevereiro de 2020 e não 18 de março de 2020, como diz o texto, e sua publicação no Diário Oficial da União (DOU) foi no dia 2 de março de 2020. A segunda questão errônea é o próprio conteúdo, que nada tem a ver com punições do tipo. É uma MP para permitir a contratação temporária de servidores civis federais aposentados pelos órgãos da administração federal. A MP autoriza esse tipo de contratação para diversas áreas do serviço público, mas era aguardada para aumentar o efetivo do INSS e reduzir a fila de mais de 1,3 milhão de pessoas à espera de benefícios.

            Ao receber a mensagem, eu de início acreditei e mesmo sendo uma medida extrema, gostei da possibilidade de ser verdade, já que em Petrópolis, cidade onde moro, a maioria das pessoas que estão na rua, passeando ou fazendo seus afazeres são idosos. Talvez pelo medo implantado eles resolvessem ficar em casa e com isso não correriam tantos riscos.

            Mesmo tendo acreditado inicialmente na notícia, pesquisei em alguns sites para ter certeza e não compartilhar uma informação falsa com amigos e familiares. Verifiquei a informação em sites como O Globo (G1), Estadão de São Paulo e UOL. Na televisão, a notícia foi rapidamente desmentida pela Previdência Social e demais órgãos de comunicação. Mas ficou circulando na rede por cerca de 3 semanas, mesmo após ter sido desmentida. E muitas pessoas continuaram acreditando e compartilhando a informação, mesmo após desmentirem tal fato. Por isso, a checagem dos fatos é tão importante.

            A Agência Lupa é a primeira agência de notícias do Brasil a se especializar na técnica jornalística mundialmente conhecida como fact-checking e foi fundada em 1º de novembro de 2015. Nela também encontramos a informação que a notícia sobre a suspensão da aposentadoria dos idosos seria suspensa caso não cumprissem a quarentena era falsa. A agência já produziu checagens em formato de texto, áudio e vídeo. Divulgou suas verificações em jornais, revistas, rádios, sites, canais de televisão e redes sociais. Tanto no Brasil quanto no exterior. Ela classifica as informações, o dado ou um número como:

  • Falso – completamente mentiroso;
  • Contraditório – a mesma fonte já forneceu uma informação contraditória a essa;
  • Verdadeira – completamente correta;
  • Ainda é cedo para dizer – pode vir a ser verdade, mas ainda não é;
  • Exagerado – a informação foi “inflada” pela pessoa, apesar de estar “no caminho certo”;
  • Insustentável – não existem dados públicos que a comprovem;
  • Verdadeiro, mas – apesar de verdadeira, a informação precisa de complemento e contexto;
  • De olho – significa que a agência ficará monitorando o assunto ou a pessoa.

            A mensagem recebida caracteriza-se como notícia falsa. Na verdade, foi criada por um rapaz que tinha como objetivo amedrontar os avós a não saírem de casa devido ao isolamento social e serem do grupo de risco, já que os mesmos não queiram ficar em casa. No entanto, ao compartilhar a mensagem que ele mesmo havia criado no grupo de família, as pessoas gostaram da ideia e começaram a compartilhar em outros grupos e com outras pessoas, quando foram ver a mensagem já havia se espalhado por todo o país. Tratava-se de uma brincadeira, mas ganhou grandes proporções.

            Dentro da disciplina de Informática na Educação aprendemos sobre o fact-checking. Trata-se de uma checagem de fatos. Um confrontamento de histórias através de dados, pesquisas, registros e verificação do que foi noticiado. O fact-checking é uma forma de qualificar o debate público por meio da apuração de diferentes fontes jornalísticas. É muito importante checar qual é o grau de verdade das informações. No Brasil, observamos um aumento das fake news na época do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.

            Quando falamos de jornalismo, todos defendem que uma reportagem deve ser clara e principalmente de basear em mais de uma fonte de informação, analisando sempre os dois lados envolvidos. A origem da informação deve ser verificada através de fontes confiáveis. Essa checagem de fatos é um método jornalístico onde se pode verificar se a informação apurada foi obtida através de fontes confiáveis e assim avaliar se são falsas ou verdadeiras.

            Com o avanço da era tecnológica, aumento do consumo e acesso à internet, muitas das etapas de checagem dos fatos através de métodos jornalísticos foram negligenciadas. Antigamente, antes de qualquer tipo de publicação eram feitos inúmeros esforços para checar os fatos, mas hoje não se apura tanto os fatos, principalmente porque existem coberturas em tempo real, e há uma grande concorrência sobre quem vai postar algo primeiro, os chamados furos de reportagem, com isso a possibilidade de divulgação de uma fato inverídico aumenta e muito.

            A popularização das redes sociais e de equipamentos móveis como celulares cada vez melhores, também possibilitou que qualquer pessoa criassem seus próprios canais de comunicação sem qualquer preocupação particular com a precisão da informação por eles distribuída.

            O fact-checking tornou-se uma ferramenta importante uma vez que uma prática relevante na atualidade, é a preocupação com a transparência. Os métodos de checagem variam de acordo com as plataformas em questão e deve se levar em consideração também se o veículo de comunicação leva a prática a sério, e assim se dispõe a explicar como checou a veracidade das informações que foram publicadas. Vale destacar que as fontes originais de informação com links e referências é um bom começo. Mas não se pode esquecer de levar em consideração o contexto, a diversidade de personalidades que são alvos de checagem e uma política clara de erros que também asseguram qualidade à checagem de fatos.

            Uma plataforma de fact-checking também não precisa necessariamente ter selos ou qualquer outro tipo de marcação editorial que classifique a informação checada como falsa, verdadeira ou duvidosa. Um dos problemas da disseminação de fatos que não são necessariamente verdadeiros, é que muitas pessoas postam as notícias sem checar se a fonte é confiável ou não, seja pela falta de tempo ou mesmo por falta de pessoas capacitadas para isso e ainda a própria disposição de dados.

            A conscientização sobre as fake news ganharam forças por dois fatores: primeiro pela mídia que passou a mostrar que o problema existia e que várias pessoas estavam sendo vítimas de golpes; segundo quando o Legislativo determinou que a prática do spam era permitida desde que passasse ao leitor da mensagem a opção de nunca mais receber aquele conteúdo, ou seja, passou a ser um processo legal.

            Quando recebemos qualquer notícia ou link no WhastApp, Facebook, e-mail, enfim através de qualquer meio social, lemos e já saímos compartilhando porque achamos importante, urgente e sentimos essa necessidade de orientar também nossos familiares e conhecidos. Daí o problema de disseminar notícias falsas ganham forças.  Devemos ter calma antes mesmo de clicar na informação, pois vemos que muitos links enviados são links que servem para roubar dados e senhas pessoais.

            Alguns pequenos detalhes já nos dão pistas se uma determinada informação é falsa ou não. De acordo com o site Nova Escola, é possível identificar a veracidade da informação antes do compartilhamento. Fizemos adaptações e listamos algumas dessas informações:

  1. Qual a fonte da notícia?

Ao ler a notícia, devemos procurar informações sobre quem escreveu a notícia, vídeo ou foto. Geralmente o nome do autor consta no início ou no final da notícia. Se o texto for de sites ou páginas de redes sociais, devemos verificar se esta é um veículo de informação confiável. Pode-se fazer busca pelo nome do autor, ou do site para verificar a credibilidade da fonte. Nas páginas e sites existem o “Quem somos”, vale verificar a política praticada pela empresa como forma de pesquisar sua credibilidade.

  1. Procure evidências da notícia:

Se o texto ou notícia for verídico, é possível encontrar a informação em diversos veículos de comunicação. Busque no texto por informações que você pode verificar, como, por exemplo, nomes, dados, locais e citações a documentos ou pesquisas. Citações como “de acordo com pesquisas” ou “estudos afirmam” são comuns em notícias falsas ou tendenciosas, pois não dizem as fontes em questão. Procure por outras notícias veiculadas em fontes confiáveis que tenham confirmado as falas do interlocutor.

  1. O contexto:

Sempre que for ler algo, não leia apenas o título. Abra a informação e leia tudo que está escrito, todo o contexto. Frases soltas fogem do contexto original da notícia e tendem a levar a diferentes interpretações. Toda notícia existem dentro de um contexto. Considere diferentes informações acerca de determinado fato, como acontecimentos atuais, tendências, objetivos de cunho políticos e pressões financeiras e de mercado.

  1. Propósito:

Quando uma notícia se espalha, significa que foi criada por alguém e quem há algum motivo para a criação do mesmo. No exemplo que estamos analisando, da fake news sobre o corte do pagamento de aposentadoria a idosos que não cumprirem o isolamento social, verificamos que tratava-se de uma brincadeira, ou seja, a notícia foi criada com o objetivo de manter os avós do autor em casa. Geralmente, notícias falsas tendem a fazer com que os leitores sintam sentimentos opostos como revolta ou serenidade, o que faz com que o leitor sinta a necessidade de compartilhar do mesmo sentimento com outras pessoas em suas redes sociais.

  1. Reprodução

A maneira como o conteúdo é feito e apresentado também nos dá dicas sobre a veracidade da informação. Podemos citar como exemplo, a linguagem utilizada e a gramática. Quando um texto é produzido por uma pessoa estudada e que quer passar seriedade, ela tende a utilizar textos com uma linguagem mais culta sem erros gramaticais estéticos. A baixa qualidade de um texto sugere uma notícia falsa. Outra dica é de acordo com a URL utilizada no site, pois a maioria das URLs confiáveis termina em “.com”, “.net”, “.org” e as do governo em “.gov”. Alguns sites costumam usar endereços muito parecidos com o de publicações de credibilidade, copiando até mesmo o layout, mas sem a mesma qualidade e com pequenos erros. Uma olhada rápida confunde facilmente. Como exemplo, podemos utilizar a imagem que foi vinculada à Igreja Universal, sobre venda de álcool em gel ungidos para o combate ao corona vírus.

            Observa-se que a imagem utilizada é muito semelhante a que a igreja utiliza, mas o nome da igreja está errado. Mas se lermos rápido, lemos errado e associamos à igreja. Casos de propagação de notícias falsas se espalham tão rápido que até mesmo a própria imprensa acaba caindo nessas mentiras. A apresentadora Lívia Andrade, do Programa Fofocalizando do SBT é um exemplo claro disso. Durante o programa ao vivo, a apresentadora apresentou a foto e associou a venda de álcool em gel ungido pela igreja, criticou o ato duramente no programa. No entanto, como vimos, tratava-se de uma fake news. A apresentadora se retratou no programa no dia seguinte, e acabou punida ficando afastada do programa por várias semanas, e perdendo o posto de principal apresentadora do mesmo.

            Existem vários níveis de sofisticação de notícias falsas, uns parecem duvidosos logo de cara, mas outros não. Por isso, pesquisar a veracidade é tão importante.

            A própria BNCC (Base Nacional Comum Curricular) nos mostra a necessidade de trabalhar com os letramentos digitais e multi letramentos. Vemos que desde cedo, as crianças já têm contato com as mídias sociais, porém ainda não conseguem discernir o que é verdadeiro ou falso na rede. É necessário trabalhar as estruturas que compõem um texto e assim podermos trabalhar em sala de aula os diferentes tipos de publicações e verificações em diferentes veículos.

            “A viralização de conteúdos/publicações fomenta fenômenos como o da pós-verdade, em que as opiniões importam mais do que os fatos em si. Nesse contexto, torna-se menos importante checar/verificar se algo aconteceu do que simplesmente acreditar que aconteceu (já que isso vai ao encontro da própria opinião ou perspectiva)[…]” (BNCC, 2018, pag. 66).

            É comum escola passarem aos alunos trabalhos pontuais sobre esses temas, mas geralmente são trabalhos isolados, sem focar tanto no assunto com os alunos. O trabalho é contínuo ao longo de toda a vida escolar. Devemos tratar desses assuntos em sala, bem como demonstrar aos alunos da importância de não disseminar notícias falsas e checar os dados antes que prejudiquem pessoas. Apesar de serem novos, os alunos aprendem muito rápido. Então se eles aprendem a verificar os dados antes de compartilhar notícias falsas, eles também ajudam e ensinam aos próprios responsáveis sobre a importância de tal ação.

            Cheque a fonte da notícia. Se apenas um veículo de comunicação está tratando do assunto, pode ser mentira. Desconfiou? Consulte agência de “fact checking” como Lupa, Aos Fatos, Boatos.org, e-Farsas, Agência Pública, entre outros.

            Os alunos navegam por um mundo mágico vendo situações em que pessoas tiveram problemas com informações incorretas e são instigadas a ajudar estas pessoas.

            O anúncio de uma pandemia do novo coronavírus reforça a necessidade de adotarmos medidas preventivas. Mantenha-se informado, siga as recomendações das autoridades e não deixe o pânico tomar conta. Nessas situações, somos mais propensos a tomar medidas erradas e disseminar notícias falsas.

            Com a agilidade exigida pelo público conectado e a redução das equipes de reportagem, a prática se tornou um nicho jornalístico. Hoje, várias agências, sites ou iniciativas coletivas oferecem checagem de notícias compartilhadas.

             A informação é essencial ao exercício da cidadania: para reivindicar seus direitos e políticas públicas que considera importante, a população precisa ter acesso ao número de pessoas que é atendida nos postos de saúde, ao dinheiro gasto com obras públicas, aos projetos de lei que os vereadores estão propondo. Vivemos hoje numa sociedade que tem excesso de informação, mas nem sempre tem acesso às informações importantes, nem às verdadeiras.

             Notícia falsa sempre existiu e hoje inclusive é uma fonte de dinheiro para sites que de dedicam exclusivamente a publicar notícias com manchetes falsas, exageradas ou incorretas, atraindo o clique dos leitores

Referências bibliográficas: