Checando notícia que liga uso de anticoncepcional

A notícia escolhida para a checagem foi um relato pessoal de uma mulher que alega a ligação de uma trombose e AVC pelas quais passou ao uso continuado de anticoncepcional. A notícia foi encontrada no facebook, compartilhada por outra pessoa que não tem ligação alguma com a emissora da mensagem inicial. Apesar dos efeitos colaterais dos anticoncepcionais acompanharem as mulheres há décadas, sem embasamento científico sintomas e consequências podem ser listadas de forma irresponsável. A exemplo do movimento anti vacina, que usa como uma de suas argumentações os efeitos colaterais das doses de imunização para justificar que as pessoas deixem de ser vacinadas, o que tem um impacto muito maior, às vezes catastróficas, na saúde pública, a notificação de efeitos colaterais dos anticoncepcionais, se forem equivocados, pode gerar um descontrole no planejamento familiar, gravidezes indesejadas, vulnerabilidade social de crianças etc.

Não foi encontrado um artigo produzido por agência de fact-checking que analisasse a informação. A segunda linha de pesquisa utilizada foi um artigo acadêmico1, onde encontramos a confirmação da notícia, com diferentes porcentagens de risco de trombose de acordo com o hormônio utilizado no anticoncepcional, além de ter relação com a predisposição da usuária – sendo necessário um estudo do quadro de saúde da paciente para avaliar os riscos de uso do medicamento.

Foi verificado que o uso de anticoncepcionais orais eleva em até três vezes mais o risco de um estado trombótico(…). Na formulação dos contraceptivos orais são encontrados estrógenos e progestágenos que inibem a ovulação. O levonorgestrel fora criado com o objetivo de produzir a progestina ideal, obtendo benefícios da progesterona natural, sem os efeitos androgênicos indesejáveis, no entanto, estudos mostraram que as classes de COC contendo progestagênio de terceira geração como o gestodeno, desogestrel associam-se a risco duas vezes maior. Foi verificado também que o levonorgestrel está associado ao menor risco em casos de trombose, devido ser mais androgênico, enquanto que os demais progestâgenios têm riscos semelhantes. Porém é necessária uma análise do paciente visando os riscos e benefícios de cada progestagênio. Analisando os dados obtidos nos artigos foi possível verificar que as pacientes apresentam um alto índice de desenvolver um quadro trombótico mesmo em concentrações diminuídas e isoladas de progestagênio.”

A verificação continuou por um site especializado em angeologia e trombose2, confirmando a relação em informações como:

Um estudo publicado pelo British Medical Journal analisou a ação de diferentes tipos de progesterona – um dos hormônios presentes nas pílulas – na ocorrência de trombose. Os pesquisadores analisaram dois bancos de dados médicos de mulheres com idade entre 15 e 49 anos com trombose prévia entre 2001 e 2013. Ao todo foram analisados 10562 casos de trombose.

Depois de ajustar outros fatores de risco, como tabagismo, consumo de álcool e índice de massa corporal, os pesquisadores notaram que os anticoncepcionais mais novos apresentam riscos maiores de trombose e suas consequências, como o AVC (Acidente Vascular Encefálico).

O risco associado às drogas desogestrel, gestodeno, drospirenona, ciproteron era 2 vezes maior que o risco relacionado aos anticoncepcionais chamados de segunda geração, como levonorgestrel, noretisterona e norgestimato e 4 vezes maior em comparação com as mulheres que não tomam pílula. Apesar dos achados, os pesquisadores afirmam que o risco absoluto ainda é baixo e que os contraceptivos orais são extremamente seguros.

Por fim, foi considerada a posição do Hospital Sírio Libanês3, que também confirma a notícia, reforçando a explicação biológica que faz a associação e considerando que o risco de amplia por se tratar de um medicamento de venda livre, possibilitando que um grande número de mulheres façam seu uso sem uma anamnese médica. Defende que nem seja feita a associação imediata do uso do anticoncepcional com a trombose, e nem que o método anticoncepcional em questão deva ser desconsiderado: com a devida supervisão médica ele pode ter relativa segurança, e atender à importante função de controle conceptivo.

Concluímos que a notícia é verdadeira, apesar de ser vinculada sem referenciações, mas exagerada, já que não considera as possibilidades de uso planejado de acordo com o quadro individual de saúde da mulher.