Vídeo mostra aparição de lua gigante

O que mais impressiona nestes tempos modernos, midiáticos e tecnológicos é a busca pelo sensacionalismo, mesmo de forma velada ou oculta. No discorrer do texto, tentarei explicar melhor.

A notícia que escolhi é sobre um vídeo postado no final do mês de maio de 2021. Nele, um vídeo curto de menos de 30 segundos, mostra supostamente a aparição da nossa Lua, no céu do Ártico, entre o Canadá e a Rússia, durante o eclipse lunar total de 26 de maio de 2021¹. O vídeo em questão mostra uma super lua em uma dimensão nunca vista daqui de nosso planeta. Entretanto, este vídeo teve rapidamente seu repasse para milhares de pessoas. Segundo a comunidade do Facebook Olhar Digital², este vídeo alcançou rapidamente a marca de 20 milhões de visualizações em poucas horas.

A história deste vídeo tem origem na conta do aplicativo “Tik Tok” de um usuário de computação gráfica, chamado de “aleksey__nz”³. Na sua conta, o rapaz expõe algumas montagens em computação gráfica. O problema começou quando alguém resolveu aproveitar o eclipse lunar de 26 de maio de 2021 para associar este vídeo com o que realmente ocorreu naquela data: o eclipse e a Superlua. Estava montada a farsa: juntou-se o fenômeno do eclipse em questão com uma montagem em computação gráfica feita sem este propósito para se disseminar que a visão do eclipse lunar de 26 de maio tenha sido espetacular.

A postagem original da computação gráfica conta na data de hoje (final de setembro de 2021) com quase quatro mil curtidas e cerca de quarenta e seis mil visualizações em sua conta no Tik Tok³. As postagens no YouTube se viralizaram e não demorou muito para que eu recebesse uma mensagem em meu whatsapp com frases relatando: “Como a natureza é perfeita! Como o fenômeno do eclipse tinha sido esplêndido!”, e em nenhum momento as mensagens refutavam a veracidade do vídeo ou questionavam a sua credibilidade. Ao abrir o Facebook também pude encontrar nas páginas de alguns amigos (pessoas que eu considero inclusive bem perspicazes) o repasse e compartilhamento do vídeo com os mesmos elogios “À grandeza e beleza do Cosmos”, sem ninguém mencionar, entretanto, que o vídeo se tratava de uma montagem em computação gráfica. Segundo o site E-Farsas⁴, trata-se de uma animação similar à outra feita no ano de 2013, que simulava a visão da Lua, caso ela estivesse na mesma localização da Estação Espacial Internacional.

Duas situações dentro dessa notícia me chamaram a atenção. Na verdade, três situações. A primeira se dá pelo fato de que eu recebi esta mensagem num grupo de astrologia (não astronomia, note bem). De pessoas que não são cientistas, mas são pesquisadores e estudam sim, os movimentos dos astros no céu e a maioria deu total credibilidade ao vídeo como verdadeiro. A segunda situação é como a notícia se espalhou de forma viral e rápida, tendo credibilidade da parte de várias pessoas, mesmo sendo situações improváveis dentro dos conceitos da Física, por exemplo. Estudiosos do assunto refutaram o vídeo, explicando que: a imagem não tem sombras, que a aproximação a essa distância do nosso planeta seria impossível por causa de nossa atmosfera, que é relatado que o vídeo foi gravado no Ártico, mas não tem neve, que durante o vídeo a Lua faz movimentos de rotação… Ou seja, um verdadeiro jogo de sete erros que faz com que cheguemos à conclusão da inverdade do vídeo. E a terceira circunstância que me chamou a atenção foram as postagens posteriores a este vídeo. Apesar de já ter sido refutado por vários estudiosos que vieram a público para checar e esclarecer a veracidade das informações⁵, o vídeo continua postado com “hastags” que levam ao usuário a acreditar no vídeo. Em um dos vídeos no YouTube o título é “Eclipse Total: lua gigante no Ártico – impressionante!”, fazendo uma alusão ao fato ser verdadeiro e só encontrando uma explicação mais detalhada sobre a real origem do vídeo na descrição do vídeo, objetivando acessos e os famosos “likes”.

Em tempos de curtidas e compartilhamentos, o que percebo que importa mesmo, é a diversão nem sempre saudável e a frivolidade, aliada a divulgação massiva de conteúdos inúteis. E enquanto nos mantemos distraídos, uma geração se define e se estabelece um padrão nocivo e míope de comportamento.

Fontes Bibliográficas: