Cuidado por (com) cloroquina!

Há duas semanas recebi um print de um post feito no Twitter no dia 9 de abril de 2020, sobre uma possível cura de um paciente infectado pelo novo coronavírus. Nele, um homem dizia que seu primo de 67 anos havia sido curado da Covid-19 após um tratamento feito com o uso da cloroquina, em um hospital localizado na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro.

Confesso que achei muito estranho, pois era a cura de uma doença que ainda não possui uma cura comprovada, e acabou sendo feita por um medicamento que havia sido alvo de discussão sobre a sua eficácia e também por influência política, já que o presidente disse inúmeras vezes sobre os “milagres” proporcionados por ele.
Diante à isso, comecei a minha análise. No dia 21 de março, o presidente chegou a postar em seu Twitter sobre o objetivo de ampliar a produção de cloroquina, devido o início de um protocolo de pesquisa no Hospital Albert Einstein, para ser comprovada a eficácia do mesmo no tratamento de pacientes infectados pelo novo coronavírus.<https://twitter.com/jairbolsonaro/status/1241434576049840130?s=20>.
Mesmo depois de ser confrontado sobre a não comprovação da eficácia do tratamento, voltou a retificar a produção do remédio, através de outro tuíte: <https://twitter.com/jairbolsonaro/status/1241546261435727873?s=20>.
E seu posicionamento foi mantido durante muito tempo, mesmo com as contradições sobre os tais benefícios apresentados por ele.
A cloroquina, desde o início dos casos de pessoas infectadas pelo vírus, tem sido alvo de debates no país para o tratamento da covid-19. O presidente Bolsonaro argumentou diversas vezes sobre a possibilidade de cura da doença com o uso do medicamento e tem incentivado o uso pelos médicos, para que se possa acabar com o isolamento social e ser feita a retomada das atividades comerciais. Outro ponto estranho foi o fato de a mensagem ter sido compartilhada diversas vezes, com o mesmo texto e sem alterações, por perfis que apoiam o presidente, podendo ter sido uma ação de robôs.
O então Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, recomendava o uso dos produtos a pacientes que estivessem em estado grave ou crítico, e que quando o uso do medicamento fosse recomendado por um médico esse estaria assumindo riscos e responsabilidades, devido aos efeitos colaterais que poderiam ser apresentados, como arritmia cardíaca. Conforme descrito na entrevista a seguir: <https://www.google.com/amp/s/saude.estadao.com.br/noticias/geral,mandetta-diz-que-analisa-uso-de-cloroquina-para-pacientes-com-sintomas-leves-do-coronavirus,70003263955.amp>.
Voltando ao caso do paciente do Rio de Janeiro, foi fácil a comprovação da falsidade imposta pela mensagem. O hospital foi procurado e negou ter tratado do tal paciente, conforme foi explicado na notícia do Estadão, disponível no link a seguir: <https://www.google.com/amp/s/politica.estadao.com.br/blogs/estadao-verifica/hospital-nega-que-tenha-tratado-primo-antonio-carlos-com-cloroquina/%3famp>.
Em meio a tantas dúvidas e debates sobre o tratamento com a cloroquina, nos Estados Unidos uma pesquisa feita com 368 pacientes não mostrou bons resultados, onde o maior número de mortes foi apresentado no grupo que recebeu o remédio e não apenas o tratamento padrão, <https://www.google.com/amp/s/exame.abril.com.br/ciencia/hidroxicloroquina-nao-mostra-beneficio-contra-coronavirus-diz-estudo/amp/>. No dia 24 de abril, saiu o resultado de uma pesquisa em que o uso elevado de cloroquina era desaconselhado em pessoas com idade avançada e cardiopatas, podendo levar ao óbito, <https://www.google.com/amp/s/veja.abril.com.br/saude/coronavirus-cloroquina-desaconselhada/amp/>.
Embora ainda não haja a comprovação da eficácia do remédio no cuidado da Covid-19, o exército brasileiro continua com o aumento da fabricação do mesmo. <https://www.google.com/amp/s/brasil.elpais.com/brasil/2020-04-27/producao-de-cloroquina-pelo-exercito-aumenta-80-vezes-mesmo-sem-conclusao-de-sua-eficacia-contra-a-covid-19.html%3foutputType=amp>.